sábado, 26 de julho de 2008

Eu e Você S.A.

A meu amigo, dois dias depois de seu aniversário.



Acordei e soube. Era preciso assumir uma nova postura. Não pelo que todas as publicações, os professores da faculdade, os palestrantes do trabalho, o mundo inteiro enfim, dizem. Não porque fosse realmente algo querido. Mas porque peixes de água doce são sufocados por grandes mares. É preciso se adaptar.

Apenas ser não é tão importante. É preciso também parecer.

Isso não é darwinismo da minha parte. Nem aceitação do sistema. Nem cabeça feita. Nem Você nem S.A.. É fato. Repete-se com a beleza de uma fala de herói de cinema americano: “O importante é ser quem se é.” Mas não é só isso. Você precisa também mostrar o melhor do que você é. Vender-se como um produto.


As pessoas querem sempre nos mudar, nos enquadrar, nos moldar ou otimizar. Todas palavras diferentes para dizer uma coisa só. Pais querem ver que seus filhos cresceram, chefes querem ver que seus empregados cresceram, amantes querem ver que seus amados cresceram. Leia-se mudaram. “O ideal seria que você fosse um pouco mais assim, ou um pouco menos assim.” Isso me faz sentir como uma pizza à qual pode se acrescentar algum ingrediente.

A verdade é que só existe uma categoria de pessoa à qual nada disso interessa. Com esse tipo de pessoa, você pode ser quem realmente é. E vai vê-lo sempre feliz com isso, sem precisar fazer esforço. Do mesmo modo, este outro ser o agradará tal como é.

Com esse tipo de gente, a gente pode se sentar numa simples praça e conversar, ou sorrir, ou chorar, ou nem fazer coisa alguma, apenas se deixar estar, e o tempo acaba até sendo esquecido. Sem nada a otimizar, e nada pode estar melhor, simplesmente porque realmente podemos ser quem somos. Sem ter vergonha de como sua cara fica estranha quando seu cenho está franzido, ou se tem sorvete na bochecha e você nem viu.

Não escolhemos família, cada vez menos escolhemos onde trabalhamos. Quanto ao amor, também não escolho o clichê, mas é preciso dizer uma vez mais que é cego (e às vezes um nó). Mas, sim, a estes seres especiais a gente pode escolher. Ou melhor, a gente acaba se encontrando. Pessoas assim como nós mesmos. Não espelhos, mas... Que outra palavra inventar? Amigos.

Assim como aquele amigo que entra na sala de aula no mesmo dia que você, depois que as aulas já começaram. Pegar o bonde andando a dois é bem melhor, não é, amigo? E, de repente, você encontra esse alguém e é como se reencontrasse. Almas antigas, nós somos não? E ainda há tanto o que viver e ver. E eu fico feliz que você esteja vivendo e vendo tão intensamente. O mundo foi mesmo feito para você. Eu apenas relato as cenas. Você as prepara para que o espetáculo aconteça.

Há ainda muitos atos pela frente. E aplausos, você sabe.

Ah, sim, é preciso dizer. Eu também acordei naquele dia e soube que era seu aniversário. Mas sabes como sou dramática, e prefiro contestar o mundo e dizer que o amo, e deixá-lo imortal em algum espaço, a apenas dizer Feliz Aniversário.

A propósito, Feliz Aniversário.

domingo, 20 de julho de 2008

Os dias não têm culpa.

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Há muito tempo que não publico. Nem para mim mesma. Não tenho externado minhas vontades. E sou muito voluntariosa no quesito escrita.

Tenho que escrever (simples). Mas escolho o que escrever (complicada). O simples fato de ter a obrigação de fazê-lo, de escolher o tema (o mais prazeroso é também o mais difícil!?!) é muito capaz de me retrair (simplesmente complicada ou complicadamente simples?).

Sou desobediente e passional, Virgílio, que posso fazer? Talvez pedisse perdão à tua memória por ter te colocado nessa cool de entitular este blog com tua meta que não chego a cumprir para o mundo (que só um amigo ou outro leia: os seres são um mundo cada)... Mas sou voluntariosa, já disse.

Meu maior prazer não pode estar sob o julgo da obrigação. Foi assim que o último século nos esmagou. É por isso que passamos a amar a sexta-feira e odiar a segunda. Os dias não têm culpa. Prostituímos nossos prazeres. Todos nós. Encontramos algo que amamos e nos profissionalizamos nisso. Só pra vender nosso amor. E amar as sextas e odiar as segundas.

Não sou menos culpada. Se encontrasse alguém que me pagasse para ler – Literatura, claro. Bem, preferencialmente... – iria correndo. E por quê? Boa pergunta. Eu acho a resposta. Talvez apenas precise admiti-la – mas é necessário sair do sistema para isso. E como sou também filha deste século obscuro, isso pode demorar. Além do quê, não gosto tanto de apelar aos efeitos especiais...

Não quero ter que me afirmar. Só quero ler. E escrever. E tomar café. E não ter que voltar ao problema de que nem mesmo café magro é de graça. E de que o mundo como vai, não tem muita graça. E de que este discurso já é bem conhecido, e muitos até o acham lindo. Mas o mundo continua sem graça, e caminhando pra ficar também sem água.

Enquanto não sou paga para ler, muito menos para escrever, nem cruzo com nenhum coelho branco, continuo escrevendo. E lendo vorazmente. Amadora. Amante. Leitora.